terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O escafandro



Neste final de semana fiz algo que, havia algum tempo não fazia mais, entrar na locadora e retirar um filme que desconhecia totalmente sua crítica, aliás, ando pensando muito sobre o quão importante são, e retirei o filme O Escafandro e a borboleta, do diretor Julian Schnabel.
Chegando em casa, depois de algumas organizações necessárias para começar a semana, coloquei-me a assistir o filme. Ele, o filme, para quem desconhece a história, narra a biografia de Jean-Dominique Bauby, editor da revista Elle, que, de uma hora para outra, se vê preso à um hospital após sofrer um derrame devastador. Com o corpo totalmente inerte, exceto o olho esquerdo, Jean comunica-se com o mundo externo escrevendo um livro através de um método de letras soletradas e sinalizadas pelo piscar do olho.
Mas além de uma bela história, e que certamente, nos faz refletir demasiadamente sobre quem somos, este filme instigou-me a outra reflexão, quantos de nós vivemos presos à algum tipo de escafandro, sem que nos ouçam, com movimentos limitados e com uma visão embaçada. Antes que eu prossiga, o escafandro é um tipo de roupa para mergulho, bastante antiga, própria para o mergulhador permanecer muito tempo no funda da água.
O fato é, o escafandro a que me refiro, são determinadas convenções socialmente criadas ou, por alguma razão, nós mesmos criamos. Passar dos trinta, por exemplo, sem estar pelo menos namorando, é um desespero para alguns; passar dos vinte e cinco anos sem ter seu próprio carro, é a morte para outros. Independente da futilidade que cada um julga como o fim ou, a clausura de suas vidas, existem certas pessoas que não conseguem vislumbrar o horizonte, porque escolheram ficar trancafiadas num escafandro. Quantas pessoas negam sua sexualidade porque um conjunto de regras diz que devem ser ocultadas? Quantos filhos perdem, ao passar do tempo, suas demonstrações espontâneas de afeto pelo seus pais, talvez porque não esteja mais na moda ser afetuoso? Não é uma tentativa de julgar o comportamento dos outros que questiono e exemplifico, pois sei que nossas atitudes são resultados de uma conjugação de fatores (nossa história de vida, o que cremos, e tantas outras que são fundamentais para compor a diversidade da espécie humana), mas sinalizo alguns comportamentos que vejo comumente na sociedade, e que talvez, até mesmo eu me enquadre em alguns deles, ou em outros que não estão registrados aqui. Em suma, diariamente vestimos o escafandro e não permitimos que inúmeros desejos e respostas dos nossos pensamentos sejam exteriorizados pela carcaça que vestimos. Uma carcaça até necessária, se pensarmos que a sociedade está cada vez mais cruel e devastadora com aqueles que fogem de seus padrões.
Porém, retomando o filme, ou o estado de reflexão que o filme me fez alcançar, penso cada vez mais que o tempo que estou “nu” ou, sem o meu escafandro, é o tempo que verdadeiramente me sinto o Paulo Sergio Fochi e, o reflexo disso, é o encontro comigo mesmo, torno-me menos misterioso para mim, conheço muito mais meu corpo, descubro o que me agrada e o que não me agrada também, consigo traçar metas para minha vida, faço acontecer, enterro medos, exponho meus pensamentos, entre em contato com minha essência.
Talvez aí, resida a resposta de tantas questões e entraves de nossa vida. Possivelmente isso acontecerá no momento em que sairmos do escafandro, e enxergarmos o que somos e o que podemos ser.
Texto: Paulo Sergio Fochi
Revisão: Flávia Nery Ordovas

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Apresentação


Gostaria de em algumas palavras poder dizer quem eu sou.

Hoje, em física quântica, não se fala mais um universo, mas em multiuniverso. A suposição de que exista um único universo não tem mais lugar na Física. A ciência fala em multiuniverso e que estamos em um dos universos possíveis. Este tem provavavelmente o formato cilíndrico, em função da curvatura do espaço, portanto, ele é finito e tem porta de saída, que são os buracos negros, por onde ele vai minando e se esvaziando. Até 2002, era quase certo que o nosso universo fosse cilíndrico, hoje já há alguma suspeita de que talvez não. Mas a teoria ainda não foi derrubada em sua totalidade. Supõe-se que este universo possível em que estamos aparaceu há 15 bilhões de anos. Alguns falam em 13 bilhões, outros em 18, mas a hipótese menos implausível no momento é que estamos num universo que apareceu há 15 bilhões de anos, resultante de uma grande explosão, que o cientista inglês Fred Hoyle apelidou de gozação de big-bang, e esse nome pegou.

Qual é a lógica? Há 15 bilhões de anos, é como se pegassemos uma mola e fosse apertando, apertando até o limite, e amarrássemos com uma cordinha. Imagine o que tem ali de matéria concentrada e energia retida! Supostamente, nesse período, todo o universo estava num único ponto adensado, como uma mola apertada e, então, alguém, alguma força - Deus, não sei, aqui a dicussão é de outra natureza - cortou a cordinha. E aí, essa mola, o nosso universo, está em expansão até hoje. E haverá um momento em que ele chegará ao máximo da elasticidade e irá encolher outra vez. A ciência já calculou que o encolhimento acontecerá em 12 bilhões de anos. Mas estou tranquilo, até lá já estarei aposentado pelas novas regras de aposentadoria.

Pode-se cogitar algo que a Fìsica tem como teoria: ele vai encolher e se expandir outra vez. Talvez haja uma lei do universo em que o movimento da vida é expansão e encolhimento. Como é o nosso pulmão, como bate o nosso coração, com sístole e diástole. Como é o movimento do sexo, que expande e encolhe. Parece que existe uma lógica nisso, que os orientais, especialmente os chineses e os indianos, capturaram em suas religiões, aquela coisa de inspirar e expirar. Parece haver uma lógica nisso, a ciência tem isso como hipótese.

Assim, há 15 bilhões de anos, houve uma grande explosão atômica, que gerou uma aceleração inacreditável de matéria e liberação de energia. Essa matéria se agregou formando o que nós, humanos, chamamos de estrelas e elas se juntaram, formando o que chamamos de galáxias (do grego galaktos, leite). A ciência calcula que existam em nosso universo aproximadamente 200 bilhões de galáxias. Uma delas é a nossa, a Via Láctea, que é "leite", em latim. Aliás, nem é uma galaxia tão grande; calcula-se que ela tenha cerca de 100 bilhões de estrelas. Portanto, estamos em uma galáxia, que é uma entre 200 bilhões de galáxias, num dos universos possíveis e que vai desparecer.

Nessa nossa galáxia, repleta de estrelas, uma delas é o que agora chamam de estrela-anã, o sol. Em volta dessa estrelinha giram algumas massas planetárias sem luz própria, nove ao todo, talvez oito (pela polêmica classificação em debate). A terceira delas, a partir do Sol, é a Terra. O que é a Terra?

A Terra é um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desparecer. Veja como nós somos importantes...

Aliás, veja como nós temos razão de nos termos considerado na história o centro do universo. Tem gente que é tão humilde que acha que Deus fez tudo isso só para nós existirmos aqui. Isso é que é um Deus que entende da relação custo-benefício. Tem indívíduo que acha coisa pior, que Deus fez tudo isso só para esta pessoa existir. Com o dinheiro que carrega, com a cor da pele que tem, com a escola que frequentou, com o sotaque que usa, com a religião que pratica.

Nese lugarzinho tem uma coisa chamada vida. A ciência calcula que em nosso planeta haja mais de trinta milhões de espécies de vida, mas até agora só classificou por volta de três milhões de espécies. Uma dessa é a nossa: homo sapiens. Que é uma entre três milhões de espécies já classificadas, que vive num planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos nossos universos possíveis e que vai desparecer?

Essa espécie tem, em 2007, aproximadamente 6,4 bilhões de indivíduos. Um deles sou eu.

Eu sou um entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencentes a uma única espécie, entre outras três milhões de espécies classificadas, que vive num planetinha, que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.


É por isso que quando alguém me perguntar se sabe com quem eu estou falando, ou quer saber quem sou eu, eu pergunto:

Você tem tempo?


Trecho do livro: Qual é a tua obra? Mario Sergio Cortella - devidas adpatações foram feitas para este blog.